quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quatro Meses

Quatro Meses
Silvia Schmidt

Outro dia foi o aniversário da partida de uma senhora por muitos conhecida e muito querida.
Algum tempo antes,chegando de uma das dezenas de consultas médicas que já fizera, ela disse aos familiares
- Pedi franqueza à junta médica que me examinou,pedi-lhes que não me poupassem de saber  a verdade sobre  meu estado de saúde.
Eu sinto que me resta pouco tempo.

Diante dos olhares ansiosos, ela continuou:

- Eles me revelaram que sou portadora  de uma moléstia incurável e que minha previsão de vida é de aproximadamente 4 meses.
E a senhora nos conta isso com essa naturalidade ?
perguntou uma das filhas, em prantos.
Continuou a senhora, com muita serenidade:
- Ora, eu tenho um bom tempo para fazer tudo que já devia ter feito  há muito.
Arrumarei todos os meus armários, guardarei o que realmente uso e o resto jogarei fora ou doarei a quem precisa.
Colocarei belas cortinas em todas as janelas e elas me impedirão de ficar olhando a vida alheia.
Todos os dias tirarei o pó da casa e, durante esse trabalho, pensarei:
Estou me livrando das sujeiras que guardei do passado
Evitarei ouvir e assistir más notícias e alimentarei o meu espírito com leituras saudáveis, conversas amigáveis, dispensarei  fofocas e não criticarei a mais ninguém.
Pensarei naqueles que já me magoaram e, com sinceridade,  os perdoarei.
Todas as noites agradecerei a Deus por tudo que estarei conseguindo fazer nestes últimos 4 meses que me restam.
Todas as manhãs, ao acordar,perguntarei a mim mesma:
O que posso fazer para tornar o dia de hoje um dia melhor?
E farei de tudo para transmitir felicidade àqueles que de mim se aproximarem.
E a cada dia que passar farei pelo menos uma boa ação.
Quatro meses são mais de 120 dias,  portanto, quando eu fechar os olhos para nunca mais abri-los, eu terei feito no mínimo 120 boas ações.
Todos que a ouviam, pouco a pouco se retiraram dali,indo cada um para um canto, para chorar sozinho.
A mulher ali ficou e nos seus olhos havia um brilho de alegria.
Pensava consigo mesma: " não posso curar meu corpo,mas posso mudar a vida que me resta "

Ela tinha uma grande tarefa:transformar seu mundo interior,  tornar-se uma pessoa totalmente diferente do que já fora em apenas 4 meses ela conseguiu cumpri-la plenamente.

O mais curioso dessa história é que, após a notícia dada aos familiares, ela viveu mais 23 anos.
Ela curou a sua própria alma  e sua moléstia desapareceu; ela morreu de velhice.

"Somos o que fazemos repetidamente.Por isso o mérito não está na ação e sim no hábito”.                                  
 (Aristóteles)

"Possuímos em nós mesmos pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea."
(Allan Kardec)